Me lembro da primeira vez que senti a energia de Chiang Mai pulsar de verdade.
Não foi em meio aos templos, nem na agitação dos mercados noturnos, mas sim quando olhei para o céu e vi a lua cheia, majestosa, coroando a montanha Doi Suthep. Naquele momento, percebi que a Tailândia não é apenas um destino de viagem; é um portal para redescoberta.
Eu buscava algo mais profundo do que turismo. Buscava uma conexão com meu próprio ciclo, uma forma de alinhar meu corpo e minha alma ao ritmo natural do universo. E foi em Chiang Mai que essa busca se transformou em uma experiência palpável.
O calendário tailandês é regido pelas fases da lua. Para a fé budista Theravada, praticada por mais de 90% da população, cada lua é auspiciosa para práticas espirituais.
É um momento de intensificar a meditação e o recolhimento, e você vê os templos lotados para cerimônias noturnas. Nessa região, onde a história local é marcada por uma forte influência na espiritualidade feminina, o ciclo lunar se torna um catalisador para acessar nossa força interior.
Viajar para Chiang Mai durante a lua cheia é mais do que presenciar um ritual cultural: é receber um convite íntimo para honrar a força da energia feminina que reside em nós, espelhando a tradição das mulheres tailandesas, grandes guardiãs dos rituais.
Vou te levar pela minha jornada para desvendar como a lua cheia em Chiang Mai pode se tornar o seu momento de maior reconexão e autoconhecimento.
Doi Suthep: Onde encontrar a meditação da Lua Cheia
Minha busca por rituais lunares em Chiang Mai rapidamente me levou para o alto. O epicentro da espiritualidade no Norte da Tailândia está, inquestionavelmente, em Wat Phra That Doi Suthep. Não há como ignorar a energia desta montanha sagrada.
A vista panorâmica da cidade de Chiang Mai, que se estende por quilômetros, torna-se apenas o pano de fundo para a real atração: a oportunidade de um profundo mergulho interior.
Eu sabia que, para a cultura Theravada, cada lua cheia (Poya Day) é considerada o dia mais auspicioso para buscar benefícios espirituais. É um momento de intensificar a prática de meditação e de reflexão. Os templos se enchem de devotos para cerimônias noturnas.
Mas eu não queria apenas observar; eu queria participar da quietude. Foi assim que descobri os retiros de Vipassana que acontecem em centros como o Doi Suthep Vipassana Center.
Estar neste ambiente, onde a ênfase é na consciência (awareness) e na cessação do processo de pensamento, é transformador. Eu me lembro de subir os mais de 300 degraus que levam ao templo (um verdadeiro desafio físico e contemplativo) e sentir que estava me desprendendo, degrau a degrau, do ruído do mundo.

O verdadeiro ritual da lua cheia que encontrei em Chiang Mai não estava em grandes festivais como o Yi Peng (Festival das Lanternas), mas sim na disciplina da quietude e da introspecção.
A meditação ensina que a felicidade e a paz de espírito vêm de dentro, e não dependem de circunstâncias externas. Você aprende a domar a mente, a reduzir o estresse, e a cultivar o desapego das pequenas irritações cotidianas.
É nesse recolhimento, muitas vezes compartilhado com outras mulheres que buscam a mesma conexão interior, que reside a força feminina de Chiang Mai.
Muitas dessas práticas, como a meditação e o aconselhamento, são mantidas vivas também pelas Mae Chee (freiras budistas), figuras que, embora nem sempre formalmente reconhecidas no alto clero monástico, são vistas pela comunidade (especialmente por outras mulheres) como acessíveis e compassivas para buscar apoio espiritual.
É um encontro com a sua essência mais pura.
Conexão feminina além da meditação silenciosa
Depois da experiência solitária de Vipassana no alto do Doi Suthep, minha jornada pela lua cheia em Chiang Mai me levou a procurar a energia feminina pulsante na cultura Lanna, que é o coração espiritual do Norte da Tailândia.
Percebi que a força do ritual lunar não estava apenas no ato individual de meditar, mas na conexão comunitária e no papel central que as mulheres desempenham há séculos na manutenção da fé.
Historicamente, a sociedade do Norte da Tailândia, marcada pela tradição Lanna, tem uma influência de um matriarcado implícito, onde as mulheres exercem um papel significativo na economia, nas práticas espirituais e até mesmo na posse de terras.

Essa herança se manifesta na religião: embora o clero monástico seja restrito a homens (na tradição Theravada), as mulheres são as principais devotas e as guardiãs dos rituais familiares.
Pude observar como a energia do Poya Day (dia de lua cheia, auspicioso para práticas espirituais) se espalha pela base da montanha. São as mulheres, em grande parte, que preparam as oferendas e garantem a continuidade das tradições nos templos.
Em muitos momentos, vi nessas mulheres a materialização da deusa Nang Kwak, que no folclore tailandês é um espírito ou Bodhisattva que traz boa fortuna, prosperidade e atrai clientes a um negócio, e que é muitas vezes equiparada à deusa hindu Lakshmi. O poder feminino de prosperidade é palpável na cultura local.
A busca por orientação espiritual em Chiang Mai também me conectou com as Mae Chee, as monjas budistas que vestem branco. Elas não possuem a ordenação formal dos monges, mas são figuras cruciais de suporte para a comunidade.

Muitas mulheres, inclusive eu, sentem-se mais confortáveis para discutir questões pessoais e buscar aconselhamento com as Mae Chee do que com os monges, vendo nelas uma figura de mãe ou irmã.
Elas atuam ativamente como professoras e líderes de retiros de Vipassana, e seu trabalho, muitas vezes não reconhecido formalmente, é a infraestrutura invisível que sustenta a vida monástica e a assistência social, como o cuidado com órfãos.
Portanto, em Chiang Mai, a lua cheia não me ensinou apenas a sentar em silêncio. Ela me ensinou a observar a força dessa rede feminina que, com delicadeza, resiliência e sabedoria, move a espiritualidade e a cultura da cidade. É um ciclo constante de devoção e poder interior.
A purificação da mente e o desapego em Vipassana
Se os templos no alto da montanha representam o chamado à prática, o clímax da experiência da lua cheia em Chiang Mai reside na profunda purificação interior.
O budismo Theravada enxerga o dia de lua cheia (Poya Day) como o momento de maior auspício espiritual. Assim, a luminosidade máxima da lua atua como um espelho, iluminando e convidando à introspecção mais intensa.
Eu me dediquei a mergulhar na prática de Vipassana (meditação de insight) durante o pico da energia lunar. Essa prática, que enfatiza a consciência e busca a cessação do processo de pensamento, transforma a lua cheia em um momento de trabalho mental ativo, e não apenas contemplativo.
O objetivo não é o relaxamento passivo, mas sim domar a mente para encontrar a felicidade e a paz de espírito que vêm de dentro, independentemente das circunstâncias externas.

O que descobri em Chiang Mai é que o verdadeiro ritual de lua cheia é o do desapego. Lembrei-me do que me foi ensinado: que o dia de lua cheia é o mais apropriado para a limpeza da mente, pois é quando se pode colher benefícios espirituais significativos.
A energia feminina em Chiang Mai se manifesta de forma potente nesse ciclo de soltura e renovação. Assim como no famoso Festival de Loy Krathong, que ocorre em uma lua cheia do calendário lunar, e que simboliza o desapego de mágoas para alcançar a renovação espiritual, o meu próprio ritual se tornou o de deixar ir.
Durante os longos períodos de silêncio e meditação na montanha, a ausência de distrações externas (livros, música, celular) me forçou a encarar o ruído interno.
E foi nessa quietude forçada que senti a “pureza” de que os monges falavam. Entendi que, ao remover as influências externas, eu estava liberando energia emocional e mental que nem sabia que estava presa.
A lua cheia, com seu brilho total, se tornou um lembrete físico para me livrar do que me pesava, transformando o ritual budista de busca de mérito em uma jornada profundamente pessoal de libertação feminina.
As águas de Phra Mae Thoranee: A força purificadora da Deusa
Depois de dias de meditação intensa e de ter compreendido a força silenciosa das Mae Chee e da tradição Lanna, senti que precisava levar a purificação da mente para o corpo, conectando-me com a natureza exuberante que abraça Chiang Mai.
O Norte da Tailândia é repleto de locais que transcendem o budismo formal, sendo montanhas, cavernas e até figueiras centenárias consideradas moradas de espíritos protetores e locais de poder. A lua cheia, com sua plenitude, intensifica essa busca pela renovação.
Para mim, a parte final do ritual de Chiang Mai foi encontrar a Deusa Mãe, a Phra Mae Thoranee, a Mãe Terra tailandesa.
É uma figura poderosa, frequentemente retratada torcendo seu cabelo comprido para criar inundações de água, simbolizando o mérito acumulado por Buda que varreu Mara (o Maligno) e seus demônios, libertando-o para atingir a iluminação. Em essência, ela representa a força purificadora da natureza e a prova da bondade.
Eu entendi que o ciclo lunar e o feminino estão profundamente ligados a essa ideia de limpeza e proteção. O meu ritual de purificação se manifestou em uma caminhada pelas florestas que circundam Doi Suthep.

Caminhar pelas trilhas até o templo, que é um misto de desafio físico e contemplação, culmina em vistas de tirar o fôlego. Buscar a energia purificadora das águas se tornou meu ato final de desapego.
A lua cheia havia me ensinado a domar a mente para encontrar a paz de espírito interior. A Mãe Terra, por sua vez, me ensinou que a purificação é um ciclo contínuo de soltura. Assim como o festival de Loy Krathong que ocorre na lua cheia e simboliza o desapego de mágoas e a renovação espiritual, eu estava metaforicamente colocando meus velhos pesos nas águas.
Ao fazer essa imersão na natureza, entendi que a energia feminina de Chiang Mai é tripla: está na introspecção silenciosa da meditação, na sabedoria ancestral das mulheres Lanna, e na força bruta e purificadora da terra e da água.
É um convite para reduzir o estresse e cultivar a equanimidade em meio à turbulência da vida. Se você tem mais dias no roteiro, pode até buscar as fontes termais como San Kamphaeng, no Norte, usadas para relaxamento e, mais importante, para purificação espiritual.
Em Chiang Mai, a lua cheia não é apenas um evento no céu, mas uma permissão para você se reconectar consigo mesma e emergir renovada.
Sua próxima Lua Cheia aguarda!
Se há algo que aprendi com essa experiência, é que os rituais de lua cheia em Chiang Mai são menos sobre uma cerimônia grandiosa e mais sobre a disciplina da introspecção e do desapego.
Em meio à luminosidade total do plenilúnio (Poya Day), senti a mente ser purificada, chegando a uma paz de espírito que, como o budismo Theravada me ensinou, não dependia de circunstâncias externas, mas sim da quietude interior.
Deixar de lado o ruído do mundo, seja nos retiros de Vipassana em Doi Suthep ou me conectando com a sabedoria da Phra Mae Thoranee, foi um ato de profunda renovação feminina.
É em Chiang Mai que a força sutil, porém inquebrável, das mulheres tailandesas se torna evidente: as guardiãs dos rituais familiares e da continuidade das tradições, as Mae Chee que oferecem apoio e compaixão, e a própria terra, que, em sua forma de deusa, prova a bondade e a purificação.
Esta jornada me mostrou que a energia da Tailândia é um convite constante à autoconsciência (awareness), lembrando-nos de que temos o poder de domar a mente para reduzir o estresse e cultivar a equanimidade em meio à turbulência da vida.
Que a sua jornada comece agora! Se você sente o chamado para alinhar seu ciclo interno com o ritmo lunar da Tailândia, assim como eu fiz em Chiang Mai, saiba que essa é a sua chance de se presentear com um ato de amor-próprio.
Se reconectar consigo mesma através de uma viagem de autodescoberta é o maior presente que você pode dar à sua energia feminina. Se você está pronta para dar o primeiro passo e transformar esse sonho em um roteiro, eu te convido a falar com a nossa equipe.
